GOVERNAR COM JESUS CRISTO: UMA PROPOSTA PARA O GOVERNANTE QUE DESEJA TER SUCESSO NA ADMINISTRAÇÃO DO SEU POVO – Paulo Batista Machado

Contando com doze assessores, em apenas três anos, Ele criou um governo que faz sucesso há dois mil anos ininterruptos. Leia neste livrinho algumas das razões desse sucesso administrativo!

SUMÁRIO

1.  VOCÊ FOI ESCOLHIDO, UNGIDO E ENVIADO.. 3

2. TENHA UM PLANO E SEJA DETERMINADO.. 5

3. SÓ VOCÊ PODE ESCOLHER OS SEUS SECRETÁRIOS. 7

4. SEJA UM FORMADOR PERMANENTE.. 9

5. NÃO HUMILHE NEM MALTRATE OS SEUS COLABORADORES. 11

6. EXERÇA A SUA AUTORIDADE… MAS SAIBA EXERCÊ-LA.. 13

7.     CORTE A CORRUPÇÃO PELA RAIZ.. 15

8. O POVO, SOBRETUDO OS POBRES, EM PRIMEIRO LUGAR… 17

9. AVALIE PERMANENTEMENTE.. 19

10. SEJA UM PROCLAMADOR DAQUILO EM QUE ACREDITA.. 20

1.  VOCÊ FOI ESCOLHIDO, UNGIDO E ENVIADO

Você já deve ter refletido sobre a sua eleição. Você  não pode estar imaginando que tudo dependeu apenas de suas estratégias, da luta dos companheiros, da força do seu discurso. Afinal, estava em jogo a escolha de alguém que dirigiria um povo, que receberia a autoridade de administrar centenas ou milhares de pessoas.

Essas pessoas, meu caro amigo, custaram o sangue de um Deus, foram lavadas no sangue redentor de Jesus Cristo. Esta redenção depositou no seio desse povo projetos, esperanças, planos especiais. Isto quer dizer que ninguém é eleito por acaso, porque nada acontece sem que o Pai o queira, não cai um cabelo sequer de nossas cabeças sem que Ele o permita. O Apóstolo Paulo afirma que “não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas”(Romanos 13,1).

Não se esqueça também de que a Bíblia, em seu Antigo Testamento, diz que aqueles que governam o povo são escolhidos por Deus, recebem uma missão específica e são ungidos pelo Senhor: “Agora, pois, eis aí o rei que elegestes e que pedistes; eis que o Senhor vos deu um rei!”(1 Samuel 12,13). Assim aconteceu com Saul, com Davi, com Salomão e com todos os reis que ocuparam o trono de Israel: “Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião”(Salmos 2,6) Somente Deus e levado por razões que somente Ele podia discernir tinha o poder de escolha dos governantes do povo.

O Escolhido era então abençoado e ungido para que pudesse cumprir com fidelidade a sua missão. Deus se mostra cioso e defensor dos seus escolhidos: “Não toqueis nos meus ungidos” ( 1 Crônicas 16,22; Salmos 105, 15). Ele garante apoio para que seja vitorioso em suas ações: “É Ele quem dá grandes vitórias ao seu rei e usa de benignidade para com o seu ungido, com Davi e sua posteridade, para sempre”(2 Samuel 22, 51). Mas, cuidado, meu jovem político: esta escolha exigia um assentimento diário, um renovar constante de forças, um teste permanente de fidelidade à unção recebida. Muitos reis, embora ungidos, não foram capazes de caminhar segundo o chamamento divino.

O dom de governar, recebido por você, e a unção do Senhor com o óleo dos eleitos precisam ser relembrados e atualizados diariamente por você, na presença de nosso Deus e de nosso povo. O segredo está na união com o Rei dos Reis, o único soberano entronizado no universo: “… a qual há de ser revelada pelo bendito e único soberano, o Rei dos reis e Senhor do senhores”(1 Timóteo 6,15).

Reflita sempre, amigo, cada dia, na unção recebida do Senhor para governar um povo que não lhe pertence,  que  pertence ao próprio Deus. Os governantes são lugares-tenente do rei, do Senhor dos Senhores, que a todos governa e que elege e unge os que são constituídos administradores do povo.

2. TENHA UM PLANO E SEJA DETERMINADO

Jesus  preparou-se durante trinta anos em sua pequena cidade de Nazaré. Elaborou um plano espetacular e nunca visto, no silêncio de uma pequena cidade, longe dos grandes centros de estratégia, que ficavam em Jerusalém. Os evangelhos nada dizem sobre estes trinta anos silenciosos. Na humildade, na pobreza, ele deixou crescer dentro de si um projeto grandioso,  capaz de abraçar todos os homens de todos os tempos.

Na  verdade, ele sabia que este plano não era seu. Era um apelo do Pai para que ele o assumisse em favor daqueles que lhe seriam entregues, apelo abraçado com determinação. Cabia-lhe tomar consciência desse Plano e operacionaliza-lo, traçando procedimentos, táticas e datas.  Ele sabia que em três anos tudo  deveria ser colocado em prática.

O político não deve perder de vista que não se pode ir á luta atabalhoadamente, ao deus-dará, fazendo coisas aqui e ali, sem uma clara visão de planejamento e do ponto a chegar. A eficácia de suas ações depende da eficiência de suas propostas e projetos. É preciso ter clareza no pensar e determinação no agir, valores que nunca faltaram a Jesus de Nazaré.

Ele sabia que não poderia mais ficar preso à sua casa e saiu de Nazaré aos trinta anos de idade agindo sempre com determinação:  escolheu seus discípulos;  fez-se batizar por João Batista;  percorreu cidades e aldeias;  escutou os pobres; realizou milagres e curas;  tentou convencer alguns ricos;  deixou de mão os que julgava um caso perdido; pregou insistentemente os princípios básicos do seu Plano; e enfim, percebendo que todas as etapas tinham sido cumpridas, caminhou conscientemente e corajosamente para a última etapa do seu projeto: entregar-se e morrer em Jerusalém.

Será que você tem um plano para o seu governo? Quem lhe inspirou esse plano? Qual o lugar das pessoas nesse planejamento? Qual o seu grau de determinação e de compromisso com esse plano?  Ou será que você vive a realizar obras soltas, prometidas em campanha, sem a consistência de um projeto forte em que as ações se casam e cooperam para que se alcance um objetivo maior?  Que objetivo seria este?  Será que a “salvação”  do povo é a meta principal de seu Plano de Governo?  Os seus secretários estão conscientes desse plano e marcham junto com você?  Você faz como Jesus, mobilizando quer pequenos grupos, quer multidões, em favor do sucesso desse Plano?

O que nos chama a atenção em Jesus é que nada o desviava de seu Plano. Enfrentou toda sorte de perseguições, suou sangue e se angustiou, mas não arredou pé do seu projeto de vida. Sua fidelidade e tenacidade arrancaram do profeta Isaías reflexões belíssimas:  “O Senhor Deus me deu língua de eruditos, para que eu saiba dizer boa  palavra ao cansado. Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que eu ouça como os eruditos. O Senhor Deus  me abriu os ouvidos, e eu não fui rebelde, não me retraí. Ofereci as costas aos que me feriam  e as faces, aos que me arrancavam os cabelos; não escondi o rosto aos que me afrontavam e me cuspiam”(Isaías 50, 4-6).

Um bom estrategista, a exemplo de Jesus de Nazaré, é capaz de viver e de morrer para que o seu plano chegue ao final pretendido. Um político empreendedor não pode deixar de se espelhar em modelo tão significativo!

3. SÓ VOCÊ PODE ESCOLHER OS SEUS SECRETÁRIOS

Se há algo que cabe unicamente a você fazê-lo é a escolha de seus colaboradores ou assessores diretos. Você pode até consultar alguém que conheça  melhor aquele que você tem em mira. Mas não se esqueça que você estará escolhendo pessoas de confiança, confidentes, companheiros nas lágrimas e nas alegrias. Isto sem falarmos na competência a ser exigida.

Jesus de Nazaré não abriu mão da escolha dos seus doze apóstolos. Ele mesmo saiu a chamar cada um. Interessante perceber também que ele escolheu pessoas de diversas profissões e meios sociais. Após  jejuar quarenta dias e quarenta noites, e refletir sobre a sua missão, Jesus retornou  à Galiléia e pôs-se a convocar os seus colaboradores: No mar da Galiléia chamou inicialmente os  irmãos Simão (Pedro) e André;  pouco depois, ao ver outros dois irmãos, Tiago Filho de Zebedeu e João, que consertavam as redes de seu pai, também os convocou. (Mateus 4, 18-22). Chamaria ainda Jesus para compor o quadro de seus auxiliares mais diretos Filipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus (um cobrador de impostos), Tiago filho de Alfeu, Tadeu, Simão (um guerrilheiro zelote) e Judas Iscariotes (Mateus 10, 2-4).

Estes escolhidos ficariam unidos a Jesus, apesar de sua fragilidades, até o fim, com exceção de Judas, o traidor. Este seria substituído pelo colegiado da nascente Igreja, recaindo a escolha sobre Matias (Atos dos Apóstolos 1, 26). Foram momentos de caminhadas conjuntas, aonde Jesus se dirigia eles ali também estavam. Desde Simão Pedro, o mais velho, ao ainda adolescente João; desde o cobrador de impostos Mateus aos engajados politicamente, como Simão, o zelote; desde o emotivo Simão Pedro ao calculista Judas Iscariotes. Mas Jesus conhecia a alma de cada um deles, sabia de suas limitações e de suas grandezas. Todos tinham uma função especial, até mesmo aquele que não lhe seria fiel  e ao grupo.

Jesus podia na verdade confiar nos seus doze apóstolos ou colaboradores, embora soubesse que eles não estavam prontos, seriam formados em três anos, treinados em serviço,  para que se tornassem co-responsáveis na execução do Plano a ser colocado em prática. Ou mesmo para levar avante o Plano, quando estivesse morto e ressuscitado.

Você pode tirar, pois, como lição, meu caro amigo, que a você cabe escolher os seus auxiliares diretos. Mas não se esqueça de que não existe o colaborador perfeito, você terá de formá-lo diariamente na escola de seus ideais e de seus projetos.

Outra lição deixada por Jesus é a de que ele procurou, além do doze, arregimentar outros colaboradores que teriam uma função especialíssima em seu plano: poderiam ter ficado apenas onze apóstolos, após a defecção de Judas. Mas ele fez questão de inspirar ao grupo a escolha de Matias para preencher o vazio deixado pelo companheiro infiel. Chamam-nos a atenção a escolha de Marcos e de Lucas, que terminariam escrevendo os evangelhos; a escolha de Estevão, um dos primeiros a derramar o seu sangue pelo projeto de Jesus; e, principalmente, o espetacular chamado de Saulo de Tarso, que caiu do cavalo a caminho de Damasco e daria ao cristianismo a identidade que ele hoje possui.

Para  engajar esses colaboradores últimos, Jesus não regateou, e fez de tudo para te-los ao seu lado, eles seriam peças fundamentais na ultimação do seu Plano. Eles tinham um diferencial de qualidade, valia à pena investir em suas conquistas. E pensar que muitos governantes deixam de convocar assessores valiosíssimos e importantes ao seu trabalho, para não investir um pouco mais. Invista, meu caro, na contratação de excelentes assessores, os resultados compensam!


4. SEJA UM FORMADOR PERMANENTE

Jesus formou, ele mesmo, os seus assessores. Eles aprendiam dia a dia, quer vendo os seus exemplos, quer escutando os seus conselhos. Jesus se servia de uma linguagem simples, falava sempre em parábolas, isto é, contava pequenas histórias que traziam mensagens especiais e sempre novas.

Às vezes Jesus fazia grandes sermões, outras vezes ensinava rápida e objetivamente, mas estava sempre ensinando. Repreendia, quando isto se fazia necessário; olhava a forma orgulhosa como se comportavam os fariseus e saduceus e dizia-lhes que não deveriam seguir tão maus exemplos; dizia-lhes que deveriam ser humildes e servidores: “Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e a serem  chamado mestres pelos homens. Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos”(Mateus 23, 6-8). Na verdade, várias vezes Jesus foi chamado de Rabi, ou Mestre, até mesmo por Judas Iscariotes, que reconhecia a excelência dos seus ensinamentos: “Então Judas, que o traía, perguntou: Acaso  sou eu, Mestre? Respondeu-lhe Jesus: tu o disseste”(Mateus  26, 25)

Seus ensinamentos não eram abstratos ou vazios. Ele mesmo deu o exemplo, lavando os pés empoeirados dos seus apóstolos: “Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-lhes: compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem: porque eu o sou. Ora, se eu sendo o Senhor e o Mestre,  vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que como eu vos fiz, façais vós também”(João 13, 12-15).

Esta lição de humildade é também retratada pelo evangelista Lucas: “… os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim: pelo contrário, o maior dentre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve” (Lucas  22, 25-26).

Não se canse, pois, meu caro político, de ensinar aos seus assessores diretos. O seu discurso, contudo, cairá no vazio se a sua prática destoar de suas palavras. O segredo do bom ensinamento nos foi dado por Jesus: “Eu vos dei o exemplo!”  Confie na capacidade de transformação do ser humano e veja cada assessor seu como uma pedra preciosa que precisa ser burilada, aperfeiçoada. Não há nada mais desanimador quando aquele que governa pouco tem a dizer aos seus colaboradores mais próximos. Sem espírito de liderança, será o comandante de uma nau sujeita ao naufrágio.


5. NÃO HUMILHE NEM MALTRATE OS SEUS COLABORADORES

A paciência de Jesus era sem limites. Dá para imaginar a distância que havia entre a consciência que ele possuía das coisas e a dificuldade de compreensão dos seus apóstolos. Ele explicou a mesma coisa várias vezes para o seu grupo de colaboradores e conhecia a limitação de cada um deles. Mesmo assim nem se fazia entender. Praticamente já na hora de sr entregue, após três anos de ininterrupto processo e formação foi que os seus colaboradores começaram a enxergar as coisas com mais clareza.

Jesus sabia que seria traído por Judas Iscariotes, mas nunca o ridicularizou entre os demais, nem o discriminou; sabia antecipadamente que Simão Pedro o negaria três vezes, na hora de seu julgamento, e mesmo assim o constituiu o primeiro do grupo; conhecia o pragmatismo e o ceticismo de Tomé, mas sabia aceitá-lo como ele era.

Muitas vezes Jesus se dirigia aos apóstolos em particular, para saber se tinham entendido o que ele dissera ou fizera. Os Evangelhos dizem que Jesus perguntava aos apóstolos: “Compreendeis isto?”   Quem não se lembra da vez em que ele interrogou direta e insistentemente a Simão Pedro: “Tu me amas?”  Não se pode negar que Jesus tomou à parte em  certas ocasiões a Pedro, Tiago e João que terminariam sendo pilares importante de sua obra. Pedro seria o Primeiro  entre os apóstolos e primeiro chefe da Igreja, após a morte de Jesus; Tiago dirigiria a importante Igreja de Jerusalém e João, “o discípulo amado” escreveria o Evangelho mais belo e mais cheio de subjetividade e de emoção.

Isto não quer dizer que não se deva ou não se possa chamar a atenção dos colaboradores. O que se tem de estar atento é quanto à forma, ao local e à hora de fazê-lo. Jesus Cristo usava de autoridade para com os seus apóstolos, corrigia-os mas sem jamais os humilhar. Vemos que na maioria das vezes os seus colaboradores eram chamados à atenção em particular ou no grupo reduzido dos doze: veja-se o diálogo especial da última ceia, a ida do grupo ao Jardim das Oliveiras, os encontros especiais de Jesus com os seus assessores após as jornadas cansativas ou longas; quando o assunto era de interesse mais geral e não dizia respeito a especificidades do grupo, Jesus se pronunciava diante de um público maior, mas sempre colocando as coisas em termos mais globais ou mais gerais, sem jamais colocar o dedo em riste em relação a um ou outro discípulo.

No Evangelho de Mateus  são dados os passos a serem seguidos no processo de repreensão daqueles que destoam do grupo: “Se teu irmão pecar (contra ti), vai argüí-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas , para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à Igreja; e, se recusar ouvir também a Igreja, considera-o como gentio ou publicano” (Mateus 18, 15-17).

Choca a todos quando um governante chama a atenção publicamente dos seus colaboradores, quando os desmerece, os humilha. Isto coopera para o enfraquecimento do Plano a ser posto em prática, divide o  grupo, e torna a todos mais fracos e vulneráveis.


6. EXERÇA A SUA AUTORIDADE… MAS SAIBA EXERCÊ-LA

Ninguém foi mais democrático do que Jesus. Entregue a uma missão redentora de todos, sem distinção, ele nunca usou de autoritarismo. Os Evangelhos nos falam largamente, contudo, de que Jesus não abria mão do exercício de sua autoridade, e era essa autoridade que lhe conferia poder e convencia as multidões. Basta citarmos o que se observa ao final do sermão da montanha: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões admiradas de sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (Mateus 7, 28-29).

A  autoridade de Jesus, ele dizia, não vinha apenas dele, na verdade ele a recebia do Pai e a partir daí a exercia. Mesmo estabelecendo um processo participativo de convivência, Jesus estabeleceu também uma cadeia de autoridade. O seu poder vinha do Pai, era repartido com os doze apóstolos, após vinham os setenta e dois discípulos. Entre os apóstolos exerciam uma autoridade especial Simão Pedro, Tiago e após a ressurreição, Saulo ou Paulo de Tarso. Mas todos faziam questão de afirmar que a sua autoridade não nascia deles mesmos mas de Jesus.

A autoridade de quem governa é fundamental, mas ela não surge da  mera imposição, ela brota da força existente dentro de si mesmo e é herdada da missão recebida. O evangelista  afirma que  Pilatos  impacientou-se com o silêncio de Jesus e lhe disse “não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar?”  A resposta de Jesus foi firme e serena:  “Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada” (João 19, 10-11).  Aquele que governa  com eqüidade, com justiça, governa sempre em nome de Deus, que é o único que tem poder sobre o céu e a terra e escolhe alguns (as autoridades) para co-participarem desse poder.

O  governante,  eleito pelo povo, homem público, não pode ser arbitrário nem fazer uso de sua autoridade para oprimir alguém. Não é porque se está no poder que se pode decidir tudo a bel-prazer, isoladamente, sem escutar aqueles  aos quais servimos. Esta escuta pode começar no grupo restrito dos secretários ou assessores diretos mas há outras instâncias a serem consultadas, os grupos sociais envolvidos e interessados na questão, a sociedade em geral.

Para tanto é preciso sair do gabinete. Gabinete é local de planejamento, de busca de elementos técnicos para possibilitar o acontecimento da vida, e não o local ideal do governante. O verdadeiro gabinete de quem governa é as praças, as ruas movimentadas, as concentrações públicas, o mercado, as feiras. O governante é eleito para melhorar a qualidade de vida das pessoas e a vida corre nas ruas, entre pessoas e casas, e não entre tapetes e ar condicionado. Ouvir as pessoas, procurar saber se estão sendo bem tratadas ou satisfeitas, o que pode melhorar… Há muita coisa que não chega aos ouvidos do prefeito, daquele que exerce o poder, e se chega, tal acontece de forma destorcida.

“O poder não pode subir à cabeça”, como costuma dizer o povo. Há governantes que em época de campanha vão de casa em casa, escutam com paciência o cidadão, prometem encaminhar ações nesta ou naquela direção. Depois de eleitos se trancam em seus paraísos de ar condicionado, nunca possuem tempo para o desabafo de alguém e desculpam-se de não estarem no meio do povo por o estarem servindo em seus gabinetes isolados.  Este comportamento contribui ao solapamento da autoridade do governante.A autoridade é algo que nasce de um poder autorizado, e à medida que as raízes se alastram em meio às comunidades, ele cresce e dá frutos. Mas pode também fenecer como o trigo ou a relva do campo, sem a seiva ou o alimento que a sustente.

Jesus nos mostra que o segredo da autoridade competente  está em fazer do poder um serviço. Uma vez, percebendo que os seus discípulos discutiam entre si qual deles parecia o maior, ele foi taxativo: “os reis os povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve”(Lucas 22, 25-26).  O grande e maravilhoso paradoxo ensinado por Jesus aos que governam  deve ser o desafio diário do que administra: Dirigir, ter autoridade é saber servir.


7.     CORTE A CORRUPÇÃO PELA RAIZ

Se  há algo que precisa ser combatido de imediato é a corrupção. Venha de onde  vier, seja de que natureza for, ela precisa ser cortada e desencorajada de pronto. Jesus era compassivo mas não admitia atos de desonestidade ou de corrupção. Ao perceber, em Jerusalém, que cambistas trocavam moedas e vendiam animais a serem sacrificados, nos adros do Templo de Jerusalém, não fez por menos e reagiu com f e reagiu com firmeza àquela forma impura de estar na casa do Senhor:: “E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados; tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: tirai daqui estas cousas; não façais da casa de meu Pai  casa de negócio”(João 2, 14-16) Dizem outras versões ou traduções da mesma passagem evangélica que Jesus teria gritado, tomado pelo zelo divino: “Não façais da casa de meu Pai um covil de ladrões” .

Espera-se do governante o mesmo zelo em relação aos bens públicos. Sabemos que há  administradores que não só usufruem pessoalmente daquilo que pertence a todos e do qual ele é apenas administrador, como beneficiam seus familiares, amigos, grupos políticos, os seus chamados correligionários. Colocam em prática o princípio de que “para os meus e para os amigos, tudo! Para os outros, o prejuízo decorrente da usurpação dos bens  que de direito devem ser disponibilizados à população”.

Se o homem público refletisse diante de Deus e em sã consciência, ele perceberia que a sua riqueza maldita foi constituída de forma injusta e dizimadora. Ao encher as suas burras, engordar as suas contas bancárias, comprar apartamentos, fazendas e gado está semeando de forma pecaminosa e altamente condenável a morte, a doença, a dor, o desemprego e o sofrimento   do povo que o elegeu. Este dinheiro poderia ter sido aplicado para evitar que criancinhas recém-nascidas morressem, que houvesse mais saneamento básico, bons médicos, medicamentos, escolas e programas de   bem-estar social.

O dinheiro da corrupção é um dinheiro manchado de sangue e deveria levar à angústia os políticos insensíveis que dormem tranqüilos ou embriagados enquanto a população, sofrida, pede em esmola o direito de comer, de ter saúde e de viver. O dinheiro surrupiado, além de gotejar sangue, é um pecado que brada aos céus e pede a Deus vingança.

Espera-se do administrador público que se deixou corromper a coragem e a humildade de Zaqueu. Este, tocado pelo olhar e pela palavra de Jesus, não hesitou em proclamar    alto e bom som que daquele dia em diante a sua vida mudaria: se tinha fraudado não mais o faria e devolveria dez vezes mais aos pobres.

O zelo pelo erário público é um comportamento sábio e digno e deve estar presente em todos os setores da administração. Os que tentem desobedecer este princípio de base devem receber a reprovação e mesmo a demissão por parte do administrador maior do município, do estado ou do país, que é o próprio povo.

8. O POVO, SOBRETUDO OS POBRES, EM PRIMEIRO LUGAR…

Nabucodonosor foi um rei a  quem Deus  conferiu o reino, poder, força e glória, e que dominava sobre todos os homens de seu tempo. Esse rei achava que o seu poderio nunca iria ter fim. Depois de um certo tempo, se tornou um rei mau, orgulhoso, que não olhava para as necessidades dos pobres. Deus o alertou das suas iniqüidades, mas Nabucodonosor não mudou de atitude. Então, um belo dia, passeando na varanda do seu palácio, passou o rei a contemplar as maravilhas da sua cidade e disse: “Não é esta a grande

Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder, e para glória da minha majestade? Foi quando o rei ouviu naquele instante uma voz do céu que dizia: Já passou de ti o reino”. (Dan. 4:30 e 31)

O coração do rei se exaltou, e o seu espírito se endureceu em soberba, por isso foi derrubado do seu trono real e passou dele a sua glória. Foi expulso de entre os homens e foi morar com os animais do campo por sete anos, até reconhecer que só o Deus altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer. O governante sábio deve reler sempre  os capítulos 2 e 4 de Daniel,  e mesmo tê-los como textos de cabeceira, para não se deixar mover pela mesma cegueira de Nabucodonosor.

Há governantes que se julgam o centro do mundo, em torno do qual tudo o mais deve se postar. Contudo, o poder vem do altíssimo. Aquele que o recebe, recebe, como já vimos, uma missão a ser desenvolvida. O sucesso dessa missão depende, em primeiro lugar, da interiorização  do pensamento de que só o Senhor possui o poder, sendo os que governam portadores dessa força que vem do alto; em segundo lugar, depende da união  daquele que governa com os governados. Enfim, ser uma ponte incansável, deixando passar a vontade de Deus e o desejo do cidadão  por ele,  estabelecer uma ligação entre os dramas do seu povo e o coração de Deus.

É sabido que não se pode atender a todos  a uma só vez. Com humildade e persistência, aquele que governa  precisa abrir a porta a todos, para que se consiga consolidar o poder a autoridade de Jesus. O que nos preocupa é que muitos governantes pensam  e agem como se fossem eternos e únicos em seus tronos. O governante que assim se comporta se esquece de que o caminho do sucesso está em colocar o povo, sobretudo os mais necessitados, em primeiro lugar. Tal quer dizer manter o espírito de serviço, perscrutar as vidas e situações das comunidades e grupos sociais, ir ao encontro das necessidades das pessoas.

O que nos chama a atenção é que a maioria dos políticos e governantes desconhece esse sábio ensinamento de Jesus e coloca em primeiro plano o seu grupo político, os seus interesses pessoais ou partidários. Não estranha que a exemplo de Nabucodonosoão estranha que a exemplo de Nabucodonosor governem por pouco tempo e não alcancem o sucesso esperado: afastando-se do povo, afastam-se de Deus e do caminho que leva à administração frutuosa e abençoada.

9. AVALIE PERMANENTEMENTE

O Brasil é um país que não se  avalia. As coisas são feitas sem que se pare e se reveja a caminhada feita. Projetos e Programas  se multiplicam, se sucedem, muitos caem no esquecimento, e ninguém senta para ver o que deu certo, o que pode ser melhorado, a rota seguida, o caminho a corrigir. Fazemos coisas, e pronto!

Ora,  é preciso agir em torno de políticas claramente estabelecidas, ou seja, estratégias e programas claramente definidos, prevejam-se avaliações ao longo de todo o trajeto e sobretudo ao final do processo. Em outros termos, é preciso que o governante avalie constantemente, permanentemente. É preciso ver se os Planos estão atingindo os objetivos e metas traçados, se as etapas estão sendo desenvolvidas coerentemente, se os métodos têm sido eficientes e se os resultados têm sido eficazes.

Infelizmente percebemos um dispêndio desnecessário de energias e recursos, resultando-se geralmente em obras inacabadas, impossíveis ou até mesmo sem serventia. Torna-se fundamental avaliar, isto é, perguntar se tudo está de acordo com o planejado.

Jesus, nos mostram os evangelhos, avaliava constantemente os seus apóstolos, querendo saber se eles estavam entendendo e absorvendo tudo aquilo quanto ele ensinava. Quantas perguntas ele não fez aos que o acompanhavam? Era desta forma que ele percebia o grau de compreensão dos seus discípulos e que pontos ele deveria reforçar ou retomar em seus discursos.

O bom governante se preocupa também em avaliar se os seus assessores, secretários, operacionalizadores das políticas traçadas, estão compreendendo o que se planeja e se realiza. Se estão afinados com os programas e projetos, se são capazes de torná-los uma realidade. Dialogando, pe Dialogando, peguntando, o governante aprende, ensina e avalia, cada dia, se o governo está no caminho certo.

10. SEJA UM PROCLAMADOR DAQUILO EM QUE ACREDITA

Quem acredita no que pensa e no que faz não fica calado. Sente o desejo irreprimível de divulgar, de publicar as suas convicções. Assim agem os grandes pensadores, os competentes administradores: eles possuem uma filosofia de vida, uma concepção de mundo, idéias em torno das quais eles vivem e projetam o mundo em sua volta. Como acreditam que por ali o mundo atingirá os melhores caminhos, eles são capazes de viver e morrer por essa filosofia e visão da realidade.

O governante precisa externar a todos os que estão em sua volta, sobretudo aos que trabalham com ele, as suas razões de viver e de trabalhar em prol do bem comum. Assim como ele se sente empurrado à ação por essa filosofia, ele também se preocupa em fazer novos discípulos em sua volta. Aí está  a garantia do sucesso de sua administração. Quem sabe, seria até interessante publicar um pequeno caderno em que estejam publicadas as diretrizes ou linhas básicas de pensamento a serem seguidas pela equipe de governo.

Estas linhas básicas ou diretrizes podem ser  reforçadas à medida que as ações planejadas e executadas forem  acontecendo. O governante lembrará a todos que a filosofia do governo está  sendo colocada em prática. Poderão também ser contados histórias e fatos da cidade, do município, da região, do estado ou do país que confirmem a força e a importância das idéias assumidas pelo governante e sua equipe de governo.

Jesus, em diversos momentos, recorreu a fatos ou histórias do Antigo Testamento para confirmar a sua palavra e a sua forma de ver as coisas e o mundo. Serviu-se também de  parábolas ou histórias curtas para repassar os  seus ensinamentos básicos. Era preciso ter ao lado pessoas que pensavam como ele e que assumiam com ele o projeto de mudar o mundo.

O governante não pode  perder de vista este trabalho de arregimentar pessoas que se unam à sua concepção de serviço ao povo que o elegeu. Pessoas que sejam capazes de estar com ele, de dia ou de noite. Assim fez Jesus, por exemplo, nos momentos que antecederam à sua prisão, no Jardim das Oliveiras. Reclamou dos seus apóstolos porque o deixavam sozinho, eram incapazes de velar com ele, de orar naquele momento decisivo à salvação da humanidade: “E voltando para os discípulos, achou-os dormindo e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?  Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca”(Mateus 26, 40-41).

Assim precisa proceder o governante, certificando-se de que não está pensando nem agindo sozinho, mas sendo o líder de um projeto que congrega um número bem maior de líderes ou pessoas preocupados com a mesma causa e portadoras da mesma concepção de mundo.

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